No Brasil, a configuração familiar tem passado por profundas transformações nas últimas décadas. O aumento no número de famílias monoparentais chefiadas por mulheres é um fenômeno que reflete mudanças sociais, econômicas e culturais. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), aproximadamente 30% das famílias brasileiras são lideradas por mulheres que criam seus filhos sozinhas, muitas vezes sem o apoio do pai biológico ou de uma figura paterna presente.
Essas mães solo assumem uma responsabilidade dupla e desafiadora. Além de exercerem o papel tradicional de cuidadoras e educadoras, também precisam desempenhar funções associadas à paternidade, como prover recursos financeiros, estabelecer limites, oferecer apoio emocional e preparar os filhos para o convívio social e a independência. A ausência da figura paterna biológica, nesse cenário, não implica ausência do papel paternal, que pode ser suprido por essas mulheres com muita competência e amor.
O papel da paternidade vai muito além da presença física ou biológica do pai. Envolve uma série de atitudes, comportamentos e responsabilidades que contribuem para o desenvolvimento integral da criança. Muitas mães solo se destacam ao exercer essas funções com dedicação, buscando sempre o melhor para seus filhos, independentemente das dificuldades enfrentadas. O desafio é grande, pois, em muitos casos, essas mulheres precisam equilibrar o trabalho, os cuidados domésticos, a educação dos filhos e a manutenção do lar, muitas vezes com poucos recursos.
A sociedade tem avançado no reconhecimento dessa realidade, mas ainda existem barreiras e preconceitos que dificultam a valorização dessas mulheres. Estigmas associados à ausência do pai e ao modelo tradicional de família ainda persistem, gerando dificuldades tanto para mães quanto para filhos. É fundamental que a sociedade amplie sua compreensão sobre as diversas formas de paternidade e família, promovendo a inclusão e o respeito.
Além disso, políticas públicas e projetos sociais desempenham um papel importante no apoio às mães solo. Programas que oferecem assistência financeira, acesso à educação, atendimento psicológico e suporte social são essenciais para fortalecer essas famílias e garantir o desenvolvimento saudável das crianças. O investimento nessas iniciativas é um passo fundamental para reduzir desigualdades e promover a justiça social.
“Não dá para romantizar: ser mãe solo é difícil. Quem diz o contrário está floreando a realidade. Muitas vezes, a gente até fala que é fácil, se veste de força, para não ter que ouvir aquelas frases que machucam, como: “Quem mandou não saber escolher o pai do seu filho?Mas a minha história não é essa. O pai do meu filho sempre parecia uma boa pessoa... até a gente se separar. Então, ele mudou. Mas isso é assunto para outro dia.Ser mãe solo é começar o dia cedo, preparar o café, separar a roupa da escola e sair quase tropeçando no tempo para não se atrasar. No caminho, revisamos mentalmente se está tudo na mochila. Na despedida, um beijo apressado, um abraço apertado e já corro para o trabalho” diz Débora Cristina Pereira mãe solo.
Em uma fala de Sidione Aparecida dos Santos carregada de emoção e determinação, a mãe compartilhou palavras de encorajamento direcionadas a outras mulheres que enfrentam a maternidade sem a presença de um companheiro. "Que sejam fortes, sejam firmes, se espelhem nas outras mães que são mãe e pai", declarou. A frase evidencia o papel duplo que muitas mulheres assumem ao cuidar de seus filhos sozinhas, sem o apoio de uma figura paterna ativa. Encerrando, enfatizou: "Que nós, mães, não precisamos de homens na nossa vida para lutar pelos nossos filhos e ser o que nós somos."
A psicóloga explica como as mães podem explicar para as crianças sobre a ausência do pai:
A psicóloga Mylena Jacinty explica que falar com clareza sobre a realidade também é um passo importante. Inventar histórias para preencher a ausência paterna ou criticar o pai ausente pode confundir a criança. O ideal é abordar a situação com uma linguagem adequada à idade, reforçando que ela é amada, cuidada e que conta com uma rede de apoio — seja composta por avós, tios, padrinhos, amigos próximos ou outros cuidadores afetivos.
Para as mães solo, essa data pode ser especialmente desafiadora. Além das responsabilidades do dia a dia, há uma carga emocional intensa que, muitas vezes, se transforma em estresse crônico e até esgotamento. Embora a figura da "mãe guerreira" seja frequentemente exaltada, essa imagem pode mascarar realidades de sobrecarga, solidão e falta de suporte. Romantizar essa luta constante contribui para a invisibilização da necessidade de políticas públicas eficazes e de redes de apoio estruturadas.
Discutir o conceito de paternidade também é essencial. A paternidade deve ser entendida como um papel ativo de cuidado e responsabilidade — não apenas como um vínculo genético. Pais biológicos, adotivos, padrastos ou outros cuidadores podem exercer essa função com afeto e presença. Essa mudança de olhar é importante para valorizar relações construídas com base no cuidado cotidiano, e não apenas na biologia.
Entre as principais demandas das mães solo estão o acesso a atendimento psicológico, grupos de apoio e políticas públicas que contemplem suas necessidades e as de seus filhos. Espaços de escuta, troca de experiências e acolhimento ajudam a mitigar o isolamento e a oferecer ferramentas para enfrentar os desafios práticos e emocionais do cotidiano.
Mais do que homenagens simbólicas, reconhecer o esforço dessas mães exige ações concretas: acesso a creches, jornadas de trabalho mais flexíveis, apoio emocional contínuo e políticas públicas que fortaleçam as estruturas familiares em sua pluralidade. O cuidado com quem cuida também precisa ser uma prioridade.

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